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A nova cara das entregas nas cidades

Principalmente, por conta das restrições de trafego de caminhões pesados nos centros urbanos, a frota dos VUCs vem crescendo, e se tornou a melhor alternativa para distribuição de insumos na cidade

Texto: Carolina Vilanova | Fotos: Divulgação

Eles já existem há muitos anos, mas somente nos últimos tempos ganharam tanta expressão nas ruas. Os VUCs, ou Veículos Urbanos de Carga, tomaram conta das grandes cidades depois que foi imposta a lei de restrição de circulação de caminhões pesados em centros urbanos, como São Paulo, por exemplo, a partir de 2008.

O VUC se caracteriza como um caminhão de menor porte, com largura máxima de 2,2m e comprimento má- ximo de 6,30m, sendo que sua capacidade de carga não pode ultrapassar as 3 toneladas. Pelo menos é o que está estabelecido no DECRETO Nº 48.338, de 10 de maio de 2007, pela prefeitura de São Paulo, quando ainda tinha Gilberto Kassab no comando. Em outras cidades do Brasil, a legislação muda um pouco mais fica em torno disso.

A Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) vai além, divide os VUCs em duas categorias: caminhões e comerciais leves. O segmento de caminhões VUC inclui os leves, semileves e médios), enquanto que os comerciais leves abrangem picapes pequenas, furgões e furgões pequenos.

Fiat Ducato
Fiat Ducato

DECRETO 53.149-12 Dispõe sobre a liberação do trânsito de veículo urbano de carga-VUC na zona de máxima restrição de circulação-ZMRC, por período integral.

De qualquer maneira, não é só o tamanho que importa, outro ponto essencial para circular em grandes.centros é atender aos limites de emissão de poluentes. A especificação é determinada pelo Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve), dependendo do ano do veículo. Somente assim, os veículos conseguem autorização para trafegar nessa chamada Zona de Máxima Restrição de Circulação (ZMRC), de São Paulo.

Frota circulante

É um tanto óbvio falar do crescimento das frotas circulantes nas cidades nos dias de hoje, e é claro que com muitos carros rodando, o abastecimento de insumos por meio do transporte urbano de carga fica mais fácil e ágil quando feito com um VUC, além de ser mais fácil de estacionar, mais rápido para carregar e descarregar, etc.

Para se ter uma ideia, a frota circulante no Brasil é 41,5 milhões de unidades, incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Esses dados são do Sindipeças e relativos ao ano de 2014. Segundo o relatório, houve um aumento de 3,7% na frota de autoveículos brasileira, em comparação com 2013.

Desse total, os veículos comerciais leves representam 4.899.701 de unidades, contra as 4.700.848 de 2013, ou seja, um aumento de 4,2%. Vale lembrar que nesse segmento não estão os caminhões leves nem os semileves, que são computados na categoria como um todo, registrando 1.859.642 de unidades, um número 5,1% maior se comparado à 2013, que foi de 1.769.624 caminhões.

Volkswagen Delivery
Volkswagen Delivery

Ainda de acordo com o relatório do Sindipeças, a frota circulante brasileira está predominantemente concentrada em cinco Estados: São Paulo, com 36,8% do total; Minas Gerais, 10,4%; Rio de Janeiro, 9%; Rio Grande do Sul, 8,5%; e Paraná, com 8,1%.

Vendas e previsão

Em geral o mercado de venda de veículos não está lá essas coisas. O ano de 2015 tem sido um marco na história recente da indústria automotiva, que só vinha registrando bons resultados e agora está amargando quedas em cima de quedas.

Tudo começou no final do ano passado e a má fase continua. Porém, os especialistas estão animados quando o assunto é VUC.

O Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) registrou um crescimento expressivo nos últimos cinco anos, quando a frota de VUCs teve um incremento de 49,5%. Em 2008 a frota era de 600.553 veículos e aumentou para 897.471 unidades até julho de 2014. Aliás, em todo estado houve um crescimento amplo, foram de 1.718.354 unidades em 2008 para mais de 2,8 milhões de veículos no final do período registrado, ou seja, 67,8% de aumento.

Mercedes-Benz Sprinter
Mercedes-Benz Sprinter

Pelo menos entre os fabricantes, chamados especialistas do setor, as previsões são boas para os VUCs, afinal, tem que ter entregar, certo? Por isso conversamos com os principais competidores desse mercado, e pudemos ver que a situação tende mesmo a melhorar. Claudio Tieppo, gerente de Veículos Comerciais da Fiat, afirma que as vendas de caminhões estão sendo influenciadas por uma séria de fatores, principalmente, pelas restrições de crédito neste ano, mas que o mercado de veículos comerciais tem historicamente performances superiores ao de caminhões.

“Os veículos comerciais têm um potencial de mercado muito grande no Brasil. Somos um país com necessidades crescentes de transportes dentro dos grandes centros urbanos, de forma rápida e econômica. Isto torna os veículos comerciais grandes oportunidades dentro das nossas necessidades de logística. Sabemos que temos um ano com grandes desafios para estabilização de nossa economia, porém acreditamos num crescimento sustentável nos setores de serviços”, finaliza.

Iveco Daily
Iveco Daily

Na Mann Latin America, o gerente de Marketing do Produto, João Herrmann, o mercado de VUCs reagiu melhor do que o de caminhões de uma maneira geral. “O mercado de caminhões leves (onde os VUC’s estão inseridos) manteve o seu volume neste primeiro trimestre comparado com o mesmo período de 2014”, diz. “O motivo para isso é a própria vocação do VUC, por se tratar de veículos ligados ao mercado de consumo em geral, (transporte de alimentos, bebidas, produtos acabados, serviços, etc;) segmentos menos afetados como transporte de grãos, por exemplo”, continua João, vendo o aumento de municípios com restrição de circulação tendo como consequência, aumento do volume de caminhões VUC para esta aplicação.

Uma das maiores fabricantes do segmento, a Mercedes-Benz, também aposta no mercado de VUCS. “Isso se dá por conta da sua ligação direta com o varejo, intrinsicamente ligado à distribuição de mercadorias nos grandes centros urbanos contribui no marco de cerca de 1.000 caminhões por ano”, segundo Wilson Baptistucci, engenheiro de Marketing de Produto Caminhões da Mercedes-Benz do Brasil.

Citröen Jumper
Citröen Jumper

“Cada cidade impõe diferentes restrições e dimensões de um veículo no conceito de um VUC, o que dificulta a padronização e atuação das empresas de distribuição urbana e fabricantes de veículos. Uma vez unificada as questões de legislação, o segmento tende a crescer ainda mais“, analisa Wilson.

Na Hyundai de acordo com as vendas do primeiro trimestre deste ano, o segmento de caminhões VUC foi o menos impactado, segundo a marca. “Esse continuará sendo um mercado muito promissor nos próximos anos. Boa parte dessa expectativa positiva se deve ao fato desse tipo de modelo ser o mais recomendado para as tarefas de transporte e distribuição de cargas, principalmente nos grandes centros urbanos, o que tornou esse modelo uma opção bastante atrativa para os frotistas”, afirma Mauro Correia, Vice-Presidente da CAOA Montadora.

Ary Jorge Ribeiro, diretor de Vendas da Kia Motors do Brasil, registrou em seus relatórios uma performance negativa dos VUCs, porém também inferior a queda no setor de caminhões como um todo.

Kia Bongo 2500
Kia Bongo 2500

Ele acredita, no entanto, que o produto VUC é promissor e veio para ficar. “Existe uma previsão de aumento de sua participação no mercado, mas ainda com tendência de queda nas vendas devido à própria situação econômica em que o País se encontra”, complementa Ary.

Restrições no trânsito

Para Wilson, da Mercedes-Benz, sem dúvida, o crescimento do segmento de VUCs está ligado à tendência do aumento das restrições de tráfego de caminhões em grandes nos grandes centros. “Nove capitais brasileiras apresentam legislações próprias, todas com imenso tráfego de cargas dentro de sua malha urbana, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza, Curitiba, Goiânia, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre”, comenta.

Ford Cargo 1119
Ford Cargo 1119

Claudio, da Fiat, comenta: “temos observado uma tendência forte nas grandes cidades à restrição de veículos pesados em determinadas áreas. Assim, acreditamos que a logística urbana será cada vez mais feita por veículos comerciais leves. São versáteis, fáceis de manobrar, oferecem boa visibilidade e conforto, além de terem bons valores de aquisição, utilização e revenda, e contribuírem para uma melhor mobilidade urbana”.

“Com a restrição aos veículos pesados nos grandes centros urbanos, os transportadores acabam optando por veículos menores (VUC) para atender contratos e horários de entrega. Além disso, as restrições colaboraram fortemente para a criação de centros de distribuição, onde as mercadorias chegam através de caminhões rodoviários e são pulverizadas dentro dos grandes centros por caminhões de menor porte”, analisa João, da Mann.

Lifan Foison
Lifan Foison

Ele explica que desta forma, a procura por VUC’s com maior capacidade de carga também aumentou nos últimos anos. “Como é o caso do segmento de Bebidas, para atender à necessidade dos nossos clientes desenvolvemos um veículo que possuí um PBT (Peso Bruto Total) de 13.000 kg”, finaliza.

Mauro, da Hyundai, diz que vale a pena ressaltar a necessidades de mais agilidade nas tarefas de transporte de cargas nas cidades, onde as dimensões compactas de um VUC proporcionam maior versatilidade e facilidade nas manobras no trânsito intenso do dia-a-dia, além da capacidade de adaptação desse modelo para atender aos mais variados tipos de usos específicos, que também são importantes elementos de fomentação de vendas de VUCs.

“A legislação é rígida e a fiscalização imperiosa, e as empresas descobriram que com os VUCS seus custos foram reduzidos sem alterar a logística necessária para o transporte de suas cargas”, observa o executivo da Kia.Hyundai HR

Hyundai HR
Hyundai HR

Um mercado variado

Sabemos que o mercado de VUCS é recheado de competidores, de diferentes modelos e tamanhos. Todas as grandes marcas, incluindo a Agrale, Citröen, Ford, Iveco, Peugeot e Renault, têm excelentes produtos para os transportadores e frotistas escolherem com qual veículo sua aplicação melhor encaixa.

Existem ainda os veículos da Effa, Rely, Shineray e da Lifan, que entra agora no mercado. “Entendemos que existente um espaço entre os VUCs com motor 1.0 e os comerciais leves com motores maiores e cuja área e capacidade para carga é menor”, afirma Luiz Augusto Zanini, diretor de marketing da Lifan Motors.

Agrale 8700
Agrale 8700

A Jac Motors também já esteve por aqui com o seu pequeno VUC, no momento não está oferecendo aqui no Brasil, mas garante que vai voltar, certamente porque o mercado é promissor e necessário num país cheio de grandes centros urbanos empacados pelo trânsito de cada dia como o nosso.

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