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E o ano de 2017, vai ser bom para os VUCs?

O ano de 2016 foi difícil, mas as expectativas e a força de vontade do segmento de veículos são maiores do que os números registrados, e o país já engata uma primeira para a retomada de mercado

Texto: Carol Vilanova 

Fotos: divulgação 

fato que o setor automotivo sofreu bastante nos últimos anos por conta da crise político-econômica que o Brasil tem enfrentado. Vivemos um período de baixas vendas e produção que desde 2006 não tínhamos visto.

Em 2016 a indústria teve de se reinventar, e a garra das montadoras de se manter vivas e investidoras foi maior do que a má vontade de políticos de ver o Brasil crescer. Tanto que os especialistas já visualizam uma certa retomada, tímida, mas gradual e efetiva nos próximos anos.

No ano de 2016 as vendas tiveram uma queda de 20,1%, em comparação com o ano passado, segundo a Fenabrave. Isso considerando todos os veículos, ou seja, leves, comerciais e pesados. No total, foram emplacados 2.050.327 automóveis, comerciais leves (picapes e furgões), caminhões e ônibus, o que representou o volume mais baixo desde 2006, que teve 1.927.738 unidades vendidas. Em 2015, com 2,5 milhões de veículos licenciados.

Mais especificamente, o mercado de comerciais leves teve 232.230 de unidades comercializadas, segundo a Anfavea (Associação dos Fabricantes), ou seja, uma retração de 17,3% em relação ao ano passado. Já os caminhões leves venderam 13.100 veículos, o que representa queda de 32% em relação ao ano passado.

E o ano de 2017, vai ser bom para os VUCs?
E o ano de 2017, vai ser bom para os VUCs?

Retomada leve mais real

A federação dos distribuidores (Fenabrave), por exemplo, estima um crescimento de 2,4% nos licenciamentos para o final de 2017, em cima do resultado de 2016, ou seja, o mercado interno deve comercializar 2,1 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus na próxima etapa. Mas segundo Alarico Assumpção Jr., presidente da associação, o pior já passou.

Já a Anfavea estima aumento de 4,0% no licenciamento de autoveículos em 2017, com expectativa de comercializar 2,13 milhões de unidades. Antonio Megale, presidente da Anfavea, afirma que existem diversas razões para acreditar em crescimento: “a conjuntura macroeconômica indica fatos positivos, como aumento do PIB, inflação convergindo para o centro da meta, reduções contínuas da taxa básica de juros e estabilização do dólar. Além disso, a PEC do teto dos gastos já está aprovada, algumas medidas econômicas foram anunciadas, vivenciamos estabilização do ritmo de vendas e teremos uma base baixa de comparação. Ao juntar todos estes fatores, acreditamos em uma reação sequencial, que passa pela retomada da confiança tanto do consumidor quanto do investidor, reaquecimento do consumo e abertura gradual da concessão de crédito”, observa.

A retomada, infelizmente não depende somente dos empresários do segmento. Precisamos fortemente de um posicionamento político e social, um plano com medidas econômicas que estejam focados em controle da inflação, redução de juros, corte de gastos e incentivos ao investimento de empresários de dentro e fora do país – investidores estrangeiros estão temerosos em colocar dinheiro no Brasil.

O país precisa funcionar, precisamos gerar empregos e fazer crescer a renda da população. No entanto, a retomada vira de forma lenta, muito diferente de como aconteceu nos últimos anos. Um aspecto citado por especialistas é que deve ocorrer uma migração das compras entre os segmentos, sendo que os principais beneficiários deverão ser os SUVs (principalmente compactos) e as picapes, que estão com muitas novidades neste ano.

numeros-fenabrave

O gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato Dynamics, especializada no mercado de automóveis, Milad Kalume Neto, acredita que o mercado interno deve começar a reverter apenas a partir de 2018. O pico de vendas que atingimos em 2013, por exemplo, só virá em 2021 ou 2022.

O setor de transportes prevê melhora em 2017, pelo menos é o que acredita Tayguara Helou, presidente do SETCESP. “Provavelmente teremos um crescimento econômico na casa de 1%, o que por si só já demonstra que teremos retomada de crescimento econômico. Precisamos obter, do lado dos empresários, o protagonismo de salvar o país. Além disso, é através destes esforços que salvaremos as contas públicas, pois havendo crescimento econômico a arrecadação volta a subir. Uma coisa é a crise polícia, que envolve todas as investigações, outra é a retomada do crescimento econômico. Precisamos separar estas duas coisas, a crise política deve continuar até mudarmos o estado que aí está hoje e a retomada econômica deve se desprender do político”, diz.

Tayguara Helou, do Setcesp
Tayguara Helou, do Setcesp

Para ele, o frete urbano significa a ponta do processo de escoamento da produção, “a última milha” que está muito próxima do consumidor final: “depende muito do consumo das famílias que devem retomar assim que sentirem um pouco mais estabilidade no emprego e na redução do índice de desemprego no país”.

Mercado de VUCs

As montadoras estão otimistas quando se trata do mercado de veículo urbano de cargas. João Pimentel, diretor de operações da Ford Caminhões, acredita que o mercado de veículos comercias leves e pesados é muito influenciado pelo crescimento nos investimentos.

João Pimentel, da Ford
João Pimentel, da Ford

“Se o PIB cresce, também vemos o crescimento de veículos comerciais se potencializando em proporções bem maiores. O segmento de veículos comerciais leves terá crescimento de dois dígitos, porém isso vai depender muito de investimentos que foram adiados, esperando um cenário mais estável. Com relação à produção, acreditamos que será maior em 2017, uma vez que todas as marcas já tenham adequado os estoques em 2016”, afirma.

No segmento dos VUCs, a Ford Caminhões conta com produtos de peso, como a Série F e os modelos Ford Cargo de 8 e 11 toneladas.

E o ano de 2017, vai ser bom para os VUCs?
Ford Cargo C-1119

Já a Mercedes-Benz teve um aumentou de 1,4 pontos percentuais (jan-nov) na sua participação de vendas com a Linha Sprinter em 2016, comparado com o mesmo período do ano passado. Werner Schaal, gerente sênior de Vendas e Marketing Vans da Mercedes-Benz do Brasil, conta que as vans, furgões e chassis com cabina da linha cresceram de 24,7% em 2015 para 26,1% em 2016.

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Esse resultado se deve ao trabalho da rede de concessionárias e ao lançamento da nova linha Sprinter com muitas novidades e mais tecnologia, e o início das vendas do Vito no Brasil.

“Os clientes da marca contam ainda com a mais completa linha de serviços de pré e de pós-venda, como as atrativas alternativas de aquisição de veículos oferecidas pelo Banco Mercedes-Benz e Consórcio Mercedes-Benz. Entre os itens do portfólio da marca, destacam-se ainda três linhas de peças de reposição (genuínas, Alliance e RENOV), Planos de Manutenção, assistência 24 horas, entre outros”, afirma.

The new Mercedes-Benz Sprinter 2013
Linha Mercedes-Benz Sprinter

Werner planeja para o próximo ano ouvir e estar cada vez mais com os clientes, “além de trabalhar sempre para criar veículos que tragam maior agilidade e eficiência para as mais diversas aplicações no transporte de carga e de passageiros”, completa.

A Iveco, que conta com a extensa gama do modelo Daily, um dos mais vendidos do mercado, acredita que, com as medidas adotadas pelo Governo, em 2017 a economia volte a crescer e, com isso, o mercado reaja.

“A inflação já começa a dar sinais de baixa e a tendência é da taxa básica de juros também diminuir. Essas e outras medidas vão estimular o consumo interno, gerando novos recursos e um cenário novamente positivo para investimentos. Segmentos como o de varejo devem registrar crescimento e estimular a venda de veículos para o transporte urbano de cargas”, diz.

“O complexo industrial da marca em Sete Lagoas (MG), com área total de 2,35 milhões de metros quadrados, que produz veículos comerciais, veículos para o transporte de passageiros e veículos de defesa, abriga também um Campo de Provas, um dos mais completos da América Latina, que nos permite testar e avaliar nossos produtos com precisão e qualidade. Com trabalho e muita dedicação estamos confiantes que o próximo ano trará um cenário mais positivo para o transporte de cargas no Brasil”, complementa.

Ricardo Barion, da Iveco
Ricardo Barion, da Iveco

“O ano de 2017 promete ser positivo no que se refere a venda de caminhões 0 km no mercado brasileiro. Os mais recentes indicadores da economia nacional sinalizam a formação de um cenário propício para, a partir do próximo ano, registrarmos a retomada de um crescimento consistente do volume de emplacamento de caminhões”, acredita Ricardo Gonella, Gerente Regional de Vendas da Hyundai CAOA.

A montadora mantém uma fábrica em Goiás para fabricar veículos comerciais leves, segmento que deverá ser um dos que mais apresentará crescimento em 2017, ocasionada, principalmente, pelos esforços de empresas para aumentar ainda mais eficiência da logística no transporte de encomendas e cargas nas principais metrópoles do País, segundo o gerente.

Hyundai HR
Hyundai HR

Tanto as montadoras quanto as associações estão confiantes numa retomada das vendas em 2017, e tudo o que precisamos é trabalhar duro e fazer valer essas previsões, afinal, muito desse resultado depende do trabalho do transportador a cada dia, que está pronto e almejando essa retomada.

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