Combustível: Menos biodiesel no tanque do transportador

Combustível: Menos biodiesel no tanque do transportador

Para reduzir o custo do diesel, a mistura de biodiesel na composição é reduzida, o que mexe com a projeção feita pelo governo e ANP, mas que causa divergências entre os especialistas, abrindo espaço para o diesel renovável

Texto: Carol Vilanova

Fotos: Divulgação

Foi no ano de 2008 que o biodiesel ganhou expressão nacional, passando a ser obrigatório na mistura de todo óleo diesel vendido nos postos. Naquele tempo, era uma mistura de 2% do combustível renovável para 98% de diesel fóssil. A mistura entre o biodiesel e o diesel mineral é conhecida pela letra B, mais o número que corresponde a quantidade de biodiesel na mistura, ou seja, lá em 2008, era diesel B2.

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Desde então esse percentual vem subindo, e os planos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) juntamente com o governo brasileiro é de chegar a 15% em 2023. E tudo estava seguindo assim, e em 2021 já estávamos operando com 13% de biodiesel misturado no diesel distribuídos pelo país.

Mas as coisas mudaram um pouco quando foi aprovada a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que estabelece a redução do teor de mistura obrigatória do biodiesel no óleo diesel fóssil para 10%.

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A redução se deu numa nota conjunta dos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia, que oficializou essa redução e já está sendo aplicada no 79º Leilão de Biodiesel (L-79), promovido pela ANP.

O anúncio prevê que as projeções de alta para a produção de soja, que fornece o óleo de soja, principal matéria-prima do biodiesel, favoreceram a redução na mistura. ‘’Nesse contexto, e, contando com a compreensão e contribuição do setor produtivo, fez-se necessário uma correção de rumo momentânea com relação ao percentual de mistura do biodiesel ao diesel comercializado no país, dos atuais 13% para 10%, no 79º leilão de biodiesel (L-79)’’.

Essa medida está sendo encarada como uma distorção momentânea necessária tida como corretiva. A nota afirma que “o governo trabalha pelo fortalecimento e consolidação do mercado brasileiro dos biocombustíveis, porém em um ambiente que permita a competitividade, buscando a garantia do abastecimento nacional e preservando o interesse do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta do produto’’.

No fundo, a intenção da medida é tentar reduzir o preço do diesel para o consumidor final, que já teve mais de 35% de aumento somente em 2021, e que teve a isenção fiscal proposta pelo governo finalizada. Assim, com a redução do biodiesel, o preço deve recuar na bomba. Claro que os produtores do biodiesel, que já haviam sido alertados da medida, a criticam com veemência.

O aumento do preço do diesel é considerado como um fator de desgaste político com setores importantes da economia, já que afeta, principalmente, o segmento de transportes e contribui para o aumento da inflação.

O que é biodiesel

Em poucas palavras, o biodiesel é um biocombustível líquido considerado uma fonte de energia renovável, que substitui o uso de combustíveis fósseis. Sua produção é feita a partir de fontes vegetais ou animais, ou seja, um produto natural e biodegradável com baixo teor poluente.

O Brasil é um dos maiores produtores de biodiesel do mundo, tendo a Petrobras como grande produtora. Os principais estados produtores são: São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rio Grande do Sul.

Combustível: Menos biodiesel no tanque do transportador

Segundo a definição do Programa Brasileiro de Biocombustíveis, o biodiesel é o combustível formado pela mistura, em diferentes proporções, de éster (nome técnico para um tipo de gordura) de óleos vegetais com o óleo diesel convencional derivado de petróleo. Por aqui, a soja é a espécie mais cultivada para comercialização do biodiesel.

A produção de biodiesel é feita com a mistura de óleo vegetal ou gordura animal em metanol ou etanol, com a utilização de um catalisador. Esse processo é chamado de transesterificação. Ao reagir com o álcool (metanol ou etanol), as cadeias de ácidos graxos desligam-se da glicerina e dão origem a uma molécula de biodiesel.

Combustível: Menos biodiesel no tanque do transportador

Como já dissemos, desde 2008, motores diesel funcionam com percentuais de biodiesel de maneira mandatória. Mas desde muito tempo vemos veículos de transporte de passageiros, basicamente, sendo testados com mais desse combustível renovável do que manda a lei, e muito disso é feito em parceria com fabricantes de motores e montadoras.

Divergências

Porém, essa utilização e a evolução do teor do biodiesel na forma atual, como é vendido no Brasil, representa divergências para a CNT (Confederação Nacional do Transporte), seguida por outras associações do setor, como IBP, ANFAVEA, Fenabrave, Fecombustíveis, Sindipeças, BRASILCOM, ABICOM e SindTRR.

Elas expressam preocupação quanto a esse aumento do biodiesel na mistura óleo diesel disponibilizado no Brasil, em função dos sérios problemas de qualidade decorrentes do combustível comercializado hoje.

Isso porque, quanto mais se amplia o teor do biodiesel mais aumenta a presença de glicerinas, típicas desse combustível, o que vem contribuindo para a ocorrência de graves problemas em bombas, bicos injetores e filtros dos veículos a diesel.

Combustível: Menos biodiesel no tanque do transportador

Ainda por conta dos contaminantes metálicos presentes em sua composição e sua incompatibilidade com os catalisadores de tratamento dos gases de exaustão dos veículos, inviabiliza o uso das tecnologias para atender aos requisitos de emissões e podem fazer crescer exaustão de óxidos de nitrogênio e material particulado. E esse resultado não atende a fase P8 do Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores), do Conama (Conselho Nacional do Meio-Ambiente), que entra em vigor em 2022/2023.

De acordo com a nota divulgada pela CNT, a evolução prevista do percentual de mistura implicará maiores custos para o transporte de cargas e de passageiros, o que aumentaria os preços de produtos para toda a sociedade. Segundo o posicionamento, essa elevação também poderá provocar danos a máquinas e motores, diminuição da sua vida útil e baixa performance de equipamentos.

“Estudos recentes apontam que teores elevados de biodiesel promovem aumento das emissões de óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos e monóxido de carbono, com impactos negativos que afetam a saúde humana e o meio ambiente, além de elevar o consumo de combustível, gerando ainda mais emissões e custos adicionais que são transferidos a toda a população”, explica a nota.

Já o documento da Fenabrave diz: “Reiteramos nosso compromisso com a preservação ambiental no país e apoiamos a diversificação da matriz de combustíveis renováveis por meio do enquadramento regulatório de biocombustíveis avançados no mercado nacional, em benefício da sociedade, do meio ambiente, dos diversos segmentos econômicos e do consumidor”.

Melhor ainda é o diesel renovável

A Petrobras já está realizando testes e tem capacidade de implementar em sua produção um novo tipo de biocombustível ainda mais ecológico do que o biodiesel atual, se podemos assim dizer. Trata-se do diesel renovável, também conhecido como diesel verde ou óleo vegetal hidrotratado (Sigla HVO, em inglês), que já é utilizado em testes na Europa, mas não era liberado no Brasil.

Porém, antes em consulta pública, a resolução que trata da especificação deste diesel verde foi aprovada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) recentemente e já pode ser considerado um tipo de biodiesel, e entrar na mistura do biocombustível com o diesel fóssil.

O diesel renovável ou HVO é produzido com a utilização de óleo vegetal ou gorduras animais, no entanto, por meio de um método mais moderno, que consiste no hidrotratamento dessa matéria-prima renovável, ou seja, sua reação com hidrogênio com a utilização de catalisadores específicos.

De acordo com as especificações, este processo pode ser feito em unidades dedicadas ou em conjunto com o óleo diesel mineral, sendo processado nas refinarias de petróleo. A parcela de origem renovável obtida no produto é quimicamente idêntica ao óleo diesel mineral (derivado do petróleo), trazendo inclusive melhorias na qualidade final do diesel para o consumidor.

O diesel renovável é isento de contaminantes, com maiores estabilidades térmica e oxidativa, ajudando na hora do a armazenamento e em sua utilização em motores diesel. Por este motivo, é capaz de minimizar avarias aos motores, como entupimento de filtros, bombas e bicos injetores. No final das contas, aumenta a vida útil dos veículos e reduz o custo dos transportes.

E por ter elevado número de cetano, ainda melhora a qualidade da combustão e por sua semelhança com o óleo mineral, não exige mudanças estruturais no motor. Para completar, reduz em cerca de 15 % as emissões de gases de efeito estufa se comparado ao biodiesel éster, ou seja, contribui mais com a preservação do meio ambiente.

Já em uso nos Estados Unidos e Europa, o diesel renovável atende à nova fase da legislação brasileira de emissões, a fase P8 do PROCONVE prevista para a próxima gestão.

De acordo com os especialistas, em função dos contaminantes metálicos, há um limite máximo para o biodiesel éster no óleo diesel rodoviário na Europa (7 %) e nos Estados Unidos (5 %), para o óleo diesel comercializado para transportes.

Finalizando, a Petrobras afirma que a adoção do diesel renovável seguindo padrões mundiais de qualidade e eficiência, dentro do mandato do biodiesel, certamente irá gerar benefícios financeiros e de qualidade para o consumidor e para segmento automotivo, na medida em que melhora o desempenho e a durabilidade dos motores, bem como  para toda a sociedade,  com a redução das emissões de gases do efeito estufa, contribuindo para deixar o Brasil preparado para as novas tecnologias de motores e regras mais rigorosas de controle de emissões veiculares.

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