O bate-papo desta edição foi com Antonio Carlos Botelho Megale, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que acredita numa melhora para 2017 e fala sobre a importância do VUC
Revista Frete Urbano: A Anfavea completou 60 anos de história em 2016, o que pode ser destacado como grandes conquistas da associação?
Antonio Megale: Há 60 anos a indústria automobilística empregava 9,8 mil pessoas, produzia 30,5 mil veículos por ano, vendia 31 mil veículos e não exportava nenhuma unidade. Após seis décadas esta mesma indústria emprega mais de 120 mil pessoas, já produziu em anos recordes mais de 3,7 milhões de unidades, comercializou número superior a 3,80 milhões e exportou quase 900 mil veículos. Esses são apenas alguns números que demonstram a grandiosidade da indústria e sua capacidade produtiva. Mas acredito que a principal contribuição da indústria e conquista para o país é o desenvolvimento das diversas cidades onde estamos instalados, com geração de emprego e renda. Basta ver os inúmeros exemplos, como Araquari, SC, Betim, MG, Camaçari, BA, Goiana, PE, Gravataí, RS, Juiz de Fora, MG, Resende, RJ, São José dos Pinhais, PR, Sumaré, SP, Piracicaba, SP, e as pioneiras São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo, no Estado de São Paulo. Neste período tivemos outras conquistas muito importantes para o desenvolvimento da indústria nacional, para a engenharia e para o país. O exemplo mais claro disso foi a criação do Proálcool, que possibilitou posteriormente a tecnologia flex, o programa de combustível renovável de maior sucesso no mundo.
RFU: E quais foram os grandes desafios enfrentados?
Megale: Nestes mais de 60 anos ficou claro que as crises são cíclicas. As intensidades variam, mas o fato é que ocorrem de tempos em tempos. E já tivemos vários motivos para gerar estes desafios: crises econômicas nos grandes mercados ou em âmbito global, os históricos choques do preço de petróleo na década de 70 com reflexos no mercado brasileiro na década de 80, a globalização – que foi um avanço, mas extremamente desafiador. Mais atualmente passamos por uma intensa onda de utilização de plataformas globais, discussão da mobilidade urbana, digitalização e conectividade.
RFU: Quantas montadoras são associadas da Anfavea? Representadas em quantas fábricas no Brasil?
Megale: Temos hoje 31 empresas associadas à Anfavea, que produzem localmente automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e rodoviárias. Atualmente temos 67 unidades industriais sediadas em 11 estados e 54 municípios.
RFU: Qual a capacidade produtiva instalada no nosso país? Desse total, o quanto estamos produzindo hoje?
Megale: A indústria automobilística brasileira tem uma capacidade de produzir cerca de 5 milhões de unidades por ano. Encerramos o ano de 2016 com uma ociosidade na ordem de 50%. A situação é ainda mais dramática para o setor de caminhões e ônibus que está com 75% de sua fabricação parada.
RFU: Existe uma estimativa de frota de veículos que circulam no Brasil? Quantos desses são veículos comerciais leves?
Megale: A estimativa da entidade é de cerca de 42 milhões de veículos circulando no Brasil, sendo que 15% deste volume são de comerciais leves.
RFU: Como a Anfavea classifica os veículos comerciais leves? Vans e caminhões de pequeno porte pequenos estão incluídos?
Megale: Classificamos os comerciais leves como os veículos comerciais projetados, equipados e caracterizados para transporte simultâneo ou alternativo de pessoas e carga, com Peso Bruto Total (PBT) de até 3,5t. Podem ser picapes (pequenas e médias), furgonetas, furgões e “vans” (de passageiros). Também são incluídos os veículos especiais, como ambulância.
RFU: Em um ano considerado positivo qual a média de veículos produzidos e vendidos? Como está sendo o resultado neste ano?
Megale: Até hoje 2013 foi o melhor ano para a indústria automobilística brasileira. Naquele ano foram comercializados quase 3,77 milhões de unidades e produzidos cerca de 3,71 milhões de unidades. 2016 foi um ano com resultado bastante inferior. O licenciamento de 2,05 milhões de unidades representou uma retração de 20,2% sobre as 2,57 milhões de unidades de 2015. A produção no ano passado chegou a 2,16 milhões, 11,2% abaixo das 2,43 milhões de 2015.
RFU: Qual a análise que a associação faz do mercado de veículos comerciais leves?
Megale: As vendas de comerciais leves também apresentaram queda em 2016. O resultado ficou 12,8% menor do que 2015: foram 311,9 mil unidades este ano contra 357,5 mil no período anterior. Independentemente do mercado, o comercial leve é muito relevante, pois ele continuará desempenhando papel fundamental no desenvolvimento de uma melhor mobilidade, seja de pessoas ou de carga.
RFU: Qual a perspectiva para o ano de 2017. O mercado automotivo vai reagir em relação a esse período difícil que estamos passando?
Megale: Sim, nossa expectativa é de que o mercado vai reagir. A Anfavea estima aumento de 4,0% no licenciamento de autoveículos em 2017: a expectativa é de comercializar 2,13 milhões de unidades. Nas exportações, novo aumento é esperado: 7,2%, totalizando 558 mil unidades enviadas para outros países. A previsão de produção é de 2,41 milhões de unidades, 11,9% acima do registrado em 2016.
RFU: O que precisa para voltarmos ao patamar de 3 milhões de veículos vendidos em um ano?
Megale: Precisamos de estabilidade política e econômica para que a confiança do consumidor e do investidor retorne a patamares relevantes. Desta forma, tanto a economia quanto as vendas da indústria automobilística retomarão patamares importantes.
RFU: Qual o status atual do Inovar-Auto? Foi um programa positivo para nosso país? Fale um pouco sobre isso….
Megale: O programa é um marco importante para a indústria automobilística brasileira, pois além de trazer aportes para a construção de novas fábricas e aperfeiçoamento das já existentes, permitiu incremento de pelo menos 12% no nível de eficiência energética dos produtos. O veículo que produzíamos em 2012 é completamente diferente do que entregamos hoje tanto em questão tecnológica, quanto em níveis de eficiência e conectividade. Temos hoje no Brasil veículos cada vez mais modernos e alinhados com o que vemos fora do país, ou seja, produtos mais globais.