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Velho Chico: desenvolvimento sustentável é possível

 

A coluna Meio Ambiente é escrita por Valquiria Stoianoff, jornalista formada pela Universidade Metodista
A coluna Meio Ambiente é escrita por Valquiria Stoianoff, jornalista formada pela Universidade Metodista

Velho Chico acabou. E na cidade fictícia de Grotas, os personagens procuraram conciliar a necessidade de desenvolvimento econômico com a promoção do desenvolvimento social e, principalmente, respeitando o meio ambiente.

Esse conceito de desenvolvimento sustentável começou na década de 70. Mas até hoje se pensarmos em termos de justiça e igualdade entre toda a população mundial, nos parâmetros da sociedade capitalista, parece bem improvável.

Na idade antiga, em que o imaginário cultural buscava na religião os fundamentos para a realidade, a terra era considerada como dádiva divina. Com a idade moderna e a mudança do foco de poder para a cidade e para a indústria, a terra passa a ser considerada uma mercadoria e o homem começa a empregar a modernização no campo, buscando técnicas semelhantes às utilizadas na cidade.

Essa modernização do campo não está voltada a questão do desenvolvimento sustentável. O que rege são os interesses hegemônicos de nações, corporações nacionais e transnacionais, de classes sociais, de domínios territoriais e tecnológicos.

Como na novela de Benedito Ruy Barbosa, a questão política é fundamental para construirmos um futuro mais adequado, sem coronéis, sem a lógica e a dinâmica capitalista de buscar sempre mais lucratividade em um tempo menor possível.

Historicamente, as elites nacionais, os grupos mais fortes, conseguem se organizar e pressionar o governo por políticas específicas para seus interesses econômicos. Isso já aconteceu em grandes ciclos econômicos no país como a cana-de-açúcar, cacau, café, algodão e borracha.

Parece utópico pensarmos que o desenvolvimento sustentável resolverá os problemas de desigualdade e exclusão social em nosso país. O capitalismo transforma o ambiente, o ecossistema, em mercadoria, mantendo o status quo.

Hoje, o Brasil continua produzindo para o mercado externo. Alimentamos o gado europeu e americano. Podemos ser considerados como o quintal das nações desenvolvidas.

E quais as consequências devastadoras que um desenvolvimento sem limites provoca?

Uma entidade formada por intelectuais e empresários, conhecido como o Clube de Roma, produziu, na década de 70, os primeiros estudos científicos a respeito da preservação dos recursos naturais. Para eles, quatro questões deveriam ser solucionadas para que se alcançasse a sustentabilidade: controle do crescimento industrial, controle do crescimento populacional, insuficiência da produção de alimentos e o esgotamento dos recursos naturais.

Crescimento econômico, redução da miséria e preservação ambiental parece que estão em lados opostos.

Na década de 80, a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas elaborou o documento “Nosso Futuro Comum” conhecido também como Relatório Brundtland. Nesse documento havia o comprometimento dos governos em promover o desenvolvimento econômico e social em conformidade com a preservação ambiental.

Na época, se elaborou um dos mais conhecidos conceitos sobre o desenvolvimento sustentável como “aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”.

O principal objetivo desse documento foi chamar a atenção do mundo sobre questões fundamentais para o desenvolvimento econômico sem a redução drástica dos recursos naturais, o que leva a danos irreparáveis ao meio ambiente.

O Relatório Brundtland e os documentos produzidos pelo Clube de Roma, sobre o Desenvolvimento Sustentável, sofreram críticas, pois atribuíam a situação de insustentabilidade do planeta, principalmente, ao descontrole da população e a miséria dos países subdesenvolvidos, e amenizando a poluição ocasionada pelos países do desenvolvidos.

O modelo de desenvolvimento capitalista seguido pelos EUA, Japão e Europa mais cedo ou mais tarde vai esbarrar nos limites naturais do planeta, por uma simples questão, os recursos naturais da terra são limitados.

Em um comparativo, se o conjunto da população mundial tivesse um consumo de energia igual aos dos americanos, todas as reservas de petróleo durariam aproximadamente 20 anos.

Isso não é novidade, em 1860, quando Karl Marx escreveu “O Capital”, se convenceu da insustentabilidade da agricultura capitalista. Ele afirmava que a produção capitalista não só destruía a saúde física dos trabalhadores urbanos e vida espiritual dos trabalhadores rurais, mas também a fertilidade duradoura do solo, tornando-se cada vez mais difícil a restituição dos constituintes que são removidos e que são utilizados na forma de alimentos, roupas, etc.

Para Marx, a cada progresso da agricultura capitalista, cada progresso na arte de aumentar a sua fertilidade por um tempo “é um progresso em arruinar as fontes duráveis de fertilidade”.

Voltando para o século 21, é emergente a questão ambiental, seus impactos gerados pelo modo de produção capitalista utilizando os recursos naturais de forma desenfreada, distante do ritmo de reprodução da natureza. Sim, existem limites físicos, orgânicos e químicos para a sua expansão.

A acumulação do capital, com a formação de grandes monopólios, e concentração de capital, parece encontrar na crise ambiental o resultado de sua dinâmica perversa.

Como na novela Velho Chico, o final feliz é fruto de uma batalha imensa daqueles que acreditavam em um mundo melhor, mais justo e sustentável. Mas esse exemplo não está só na ficção.

Nesse momento, existem pessoas na vida real que encontraram alternativas para um mundo com necessidades crescentes e recursos limitados. É o que mostra um documentário francês “Tomorrow”. O filme apresenta de forma concreta ideias para um mundo melhor. Nesse documentário, os protagonistas realizam uma viagem ao redor do mundo buscando pessoas que trabalham para encontrar soluções concretas e fazem desse mundo um lugar sustentável para todos.

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